A teia vazia

“Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita.” Salmo 73.23

Algum tempo atrás fiz uma analogia sobre a resiliência de uma aranha, inquilina do jardim da minha mãe, e o luto que estou vivendo. Acabei me afeiçoando à aranha e sempre a visitava para apreciar seu trabalho, até que apareceu um filhotinho na teia. Ele passeava em volta da mãe, subia nas suas patas e, às vezes, ficava perigosamente perto da sua boca. A teia ficou ainda mais interessante; tirei algumas fotos e filmei mãe e filho brincando juntos. Rapidamente, o filhote ganhou independência e foi caminhar pelas extremidades dos fios, mas sempre voltando para perto da mãe.

Num domingo fui fazer a visita de rotina para minha amiga e qual não foi minha decepção quando vi a teia vazia. Procurei pelas folhas e canteiros, mas não a encontrei. Um pequeno buraco no meio da teia indicava que algum pássaro tinha passado por ali e levado a dona aranha embora. O filhotinho continuava lá, só, no último fio da teia que, aos poucos, estava se desfazendo. Todos aqueles fios entrelaçados eram sustentados pela força da aranha e, agora, sem ela, estavam despencando. O pequeno filhotinho aguentou uns dias e desapareceu.

Parece uma bobagem, mas eu fiquei muito triste. O vazio da teia refletiu o vazio do meu coração. Ver aquela enorme teia sem a força de quem a mantinha unida me lembrou de quem estava sempre cuidando da minha família, que ficava firme na hora das provações, que, apesar do seu trato, por vezes duro, reconstruía os fios quebrados, sustentava e cuidava dos nossos temores e emoções. Me senti como a pequena aranha se agarrando ao último fio da teia para não cair.

Ainda estou tentando aprender a  lidar com esse vazio desesperador e penso em quantas teias vazias esta pandemia deixou. Quanto lares em luto e agonia neste momento fazem coro comigo e choram pelas despedidas inadequadas e solitárias em tempos de isolamento.

Graças a Deus que tem preenchido o vazio do meu coração e creio que Ele está reconstruindo os fios quebrados.  Neste breve tempo aqui na terra, ainda viveremos muitos vazios: a distância e ausência de amigos, de filhos que se mudam, de irmãos que estão longe, de perdas físicas, emocionais e materiais. Mas o grande Deus do Universo, a quem recorremos e buscamos, na angústia ou na alegria, preenche e alivia nossas dores, é paz em meio ao caos, saúde em meio à enfermidade, sustento em meio às perdas e esperança de recomeço, de alegria, de vida plena e de companhia para esta vida e para a próxima, a qual aguardo, para descansar de todos os meus sofrimentos e encontrar o meu Salvador!

Zelene Reis

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