Esvanecendo

“Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.” Tiago 4:14

Somos como uma névoa que vai se dissipando. Que grande verdade! Quando meu marido faleceu, foi difícil lidar com a ausência, a saudade e a tristeza. Não imaginávamos que, além de tudo isso, iríamos perder, aos poucos, tudo que envolvia a vida dessa pessoa no nosso pequeno núcleo familiar.

Fomos orientados a cancelar contas bancárias, porque o CPF some logo após a morte. Cancelamos o plano do celular, no qual ele estava incluído, e fizemos outro, até porque mudamos de estado e cidade e tivemos que trocar os números. Deixamos o celular dele com o chip e guardamos como lembrança, com as últimas mensagens enviadas e recebidas. E foram muitas. Ele fez aniversário na semana em que estava internado e ficou muito feliz com tanta demonstração de carinho e cuidado. A vendedora do novo plano nos avisou que, com o tempo, o número dele seria cancelado automaticamente, então, podíamos deixar como estava.

Meu marido demorou a se acostumar a mandar mensagens pelo celular. Ele achava que uma boa conversa sempre seria melhor resolvida com uma ligação, em tempo real. Nos contatos dos meus filhos a frase mais comum era: “Posso te ligar?” Áudio, nem pensar. Algum tempo após sua morte, queria tanto ouvir o som da sua voz, que procurei por todo o meu celular e não encontrei nenhum áudio. Ele gostava de deixar sempre o celular limpo. Mensagens guardadas só mesmo as que precisavam ficar documentadas e as fotos e vídeos da família. O resto, ele apagava tudo.

No sábado passado, qual não foi minha surpresa quando vi a mensagem no grupo da família: “Homero saiu”. Ficamos sem entender e depois vimos que tinha a mesma mensagem em todos os grupos em que ele fazia parte. Foi um choque. Coloquei o nome na busca e lá estava o nome, com a foto do perfil e o número. Tudo normal. Mas, no domingo, o nome desapareceu e depois a foto do perfil. Aos poucos, novamente, ele foi se despedindo.

Assim é a nossa vida. Como disse minha sobrinha: “ele nunca sairá dos nossos corações.” Sempre estará nas nossas lembranças e a cada dia vamos enfrentando o vazio, a saudade e a tristeza do distanciamento. Uma névoa que vai se dissipando…

Que possamos encontrar em Cristo, mesmo sabendo que a nossa vida é fugaz e passageira, motivos para deixar nossas pegadas visíveis, de um modo bom, para que nossas lembranças façam diferença e deixem marcas nos corações dos que aqui ficarem. Não sabemos o dia de amanhã, então, lembremos do nosso Criador, “antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Eclesiastes 12:6,7)

Zelene Reis

02 de novembro de 2020

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