Nascimento, Casamento e Morte!

“Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; pelo que, por causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás.” Salmo 31.3

Meu querido esposo faleceu numa sexta-feira, vítima do COVID 19, num feriado antecipado devido a pandemia. Perder um ente querido já é um sofrimento indescritível, mas perder alguém num contexto de isolamento, sem fazer um funeral adequado, sem poder receber abraços, solidariedade e estar com a família, chega a ser cruel.

Foi nesse cenário inusitado que eu, minha filha e meu neto, na segunda-feira seguinte nos dirigimos ao cartório para registrar o óbito e enfrentamos uma pequena fila na calçada, pois só entravam duas pessoas por vez para serem atendidas. E foi nesta fila, numa imensa tristeza e desolação que constatei, literalmente, que a vida segue. Apesar de, naquele momento, me sentir presa no tempo, sem conseguir ver um futuro ou esperança, só olhando para o meu sofrimento, pude ver três estágios da vida a que todos estamos sujeitos: nascimento, casamento e morte!

Um pouco atrás de nós um jovem pai chegou para registrar o nascimento do filho. Ele falava alto com alguém pelo celular, expressando todo seu orgulho e alegria, falando sobre testes e vacinas para o bebê, feliz da vida! Um pouco mais à frente um casal em traje social, contrastando com a máscara no rosto, aguardava ser chamado para oficializar seu casamento. Como já tinha mais pessoas dentro do cartório, só o noivo foi chamado e ficou lá um bom tempo. Quando ele saiu, chamaram a noiva, que entrou rapidamente, assinou a certidão e saiu. Um casal, talvez as testemunhas que os acompanhavam, nem foram chamados para assinar, e assim os quatro se afastaram e ficamos todos pensando: que tempo estamos vivendo?  Logo em seguida minha filha entrou para registrar o óbito do pai.

Saímos dali para enfrentar outras tantas burocracias e protocolos que envolvem a morte, ainda mais severos e estranhos em tempos de pandemia, e eu fiquei pensando se teria forças suficientes para dar continuidade à minha vida, agora sem meu companheiro de 43 anos de jornada.

Mas agora, um mês depois, com a alma dolorida e o luto latente, com uma mudança radical de rumo, de cidade, de estado, vejo que minha vida segue, apesar de tudo. E a força de onde vem? De onde vem o consolo quase palpável, algumas vezes? De onde vem  o socorro nos momentos de aflição? “O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra!” (Sl. 121:1). Só Ele não permitirá que os meus pés vacilem e está sendo a sombra à minha direita, guardando a minha saída e a minha entrada desde agora e, tenho plena convicção, guardará até o dia em que O encontrarei na glória e descansarei de todos os meus sofrimentos!

Zelene Reis

15/06/2020

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