O tempo e o Senhor

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Eclesiastes 3:1

Hoje faz 9 meses que você nos deixou. Nos primeiros dias de agonia, de dor intensa, conversei com alguém muito próximo e que também tinha passado por um luto parecido com o meu e conhecia muito bem o que eu e minha família estávamos passando. Perguntei a ele: “Será que isso passa um dia? Só com o tempo?” E ele me disse: “O tempo e o Senhor!”

Gravei muito bem estas palavras e estou esperando o tempo passar porque eu tenho o Senhor comigo. De outra forma, não estaria aguentando viver este momento. O tempo vai passando, mas a dor, apesar de ainda latejar, começa a dar uma trégua. No Livro de Eclesiastes, o sábio Salomão diz que, entre os tempos da vida, há “tempo de rir e tempo de chorar” (Eclesiastes 3:4a). Então, ainda é o tempo de chorar que estou vivendo, apesar de começar a ver um vislumbre de esperança, de resignação e de aceitação que começa a despontar, tirando um pouco do peso e da escuridão do luto.

Já passou o Natal, o Ano Novo e 2020 virou a página. Janeiro passou como um raio. Quando todos queriam que o ano pandêmico acabasse, para que a esperança se renovasse, eu ainda me apegava ao último ano do começo de uma nova vida de desespero e solidão. Parecia que, se ainda eu estivesse em 2020, me agarraria ao começo, aos primeiros meses em que tive meu marido comigo. Mas o ano e ele se foram… e agora resta pedir ao Senhor que traga esperança para os tempos vindouros, porque a tristeza ainda não dá trégua. Algumas vezes ela sai dar uma volta e, quando penso que ela me esqueceu, lá vem ela, trazendo lembranças e desencadeando memórias que despertam o choro e a dor.

Então, chego à conclusão de que, assim como as estações se sucedem trazendo suas peculiaridades, o luto também tem suas fases. Se onde moro agora, vivo as quatro estações, às vezes, no mesmo dia, assim também, vivo as fases do luto quase sempre ao mesmo tempo. Cada uma carregada de singularidade: uma hora trazendo culpa, outra trazendo dor ou negação e depois aceitação e paz, para logo o ciclo se repetir. E assim, vou esperando que o tempo amenize todas elas.

A frase tão verdadeira: “Só o tempo e o Senhor”, faz com que eu me apegue ainda mais a quem pode fazer com que o tempo passe, aplacando a dor, diminuindo as lembranças amargas e trazendo paz ao meu coração. Alguém já me disse que o luto nessa pandemia é atípico, carregado de memórias trágicas e o tempo ainda vai ser longo para acalmar o coração. Vai melhorar, vai aplacar, mas nunca vai apagar da memória os dias duros de muita luta, susto, doença, solidão e dor.

Assim eu oro: “Senhor do tempo e da cura das memórias e feridas abertas, Senhor da paz e da alegria, faça com que o tempo traga esperança, segurança e, se possível, apague ou, como em uma velha aquarela, embace as lembranças que trazem dor e que chegue o tempo da saudade boa e das lembranças alegres. E que em breve venham dias que eu possa dizer: o tempo do Senhor chegou! Amém!”

Zelene Reis

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