Pedágios e amigos

“O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.” Provérbios 17.17

Sempre tive muitos amigos. Amigos chegados e sinceros. Na minha dura provação me espantei com o círculo de amizade que conquistamos (eu e Homero) ao longo da nossa vida. Alguns mais amigos dele, outros mais amigos meus, mas muitos amigos que fizeram história conosco. Hoje tenho colhido os frutos dessas preciosas amizades. Quando o Homero faleceu fiquei sabendo de tantas coisas que ele fez para tantas pessoas, que eu nem imaginava. Outros me escreviam ou ligavam para lembrar da nossa hospitalidade, sempre com a mesa posta, com o coração alegre, com desprendimento e carinho. Lançamos sementes ao longo dos anos que, hoje, brotam perto e longe.

Mesmo em tempos de pandemia, cumprimentos desajeitados, abraços distantes, muitos amigos abriram as portas de suas casas para um almoço ao ar livre, um café numa mesa imensa, com distância segura, conversas de longe, mas de olho no olho, choros e risos, companheirismo e a lembrança de que a amizade sempre permanece, mesmo nos vendo tão pouco. E não faltou gratidão pelos laços que ficaram pelos anos de convivência com quem não media esforços para estar perto e ajudar a quem precisasse em qualquer hora ou lugar.

Estes dias fiquei hospedada na casa de um casal, amigos de anos, que foram encorajados por nós a namorar e depois fomos seus padrinhos de casamento. Foi uma bênção. Muito choro, muito riso, além de mãos que trouxeram cura num momento crucial e muitas e muitas comodidades que chegaram a constranger. Estava brincando com minha amiga sobre passar mais uns dias na mordomia, pois foram momentos que tiraram um pouco a sombra da tristeza e, apesar do choro compartilhado, também, tivemos muitas alegrias para celebrar.

Numa de nossas inúmeras conversas, minha amiga me contou que quando passeava com a mãe, já idosa, ela dizia: “gosto de viajar com você porque você não precisa pagar os pedágios da estrada e sempre passa direto”. Sua mãe não entendia bem o conceito do “Sem Parar” (cobrança automática) e não sabia que, mais tarde, viria a conta de todas as andanças das duas pelas estradas da vida. Gostei tanto da ideia que brinquei que ficaria mais uns dias em sua casa, porque onde íamos ela assinava uma nota, passava no caixa sem me deixar nem encostar para ver o valor da conta, e quando eu menos esperava, lá vinha ela carregada de frutas, doces, chocolates e tantas coisas para deixar as visitas mal acostumadas. Me senti com passe livre, aproveitando a brisa da estrada, com todos os pedágios pagos.

Isso me levou a meditar na minha vida com Deus. Como é bom que o caminhar com o Senhor é uma vida sem pedágios. Apesar das estradas à nossa frente terem curvas, lombadas, buracos no asfalto mal cuidado, pontes perigosas e desvios que não esperávamos, mesmo assim, nosso pedágio é livre. Quando Cristo veio a esse mundo, Ele pagou com sua morte, por todas as nossas topadas e caminhadas, nem sempre corretas ou seguras, mas, através do seu perdão, nos deu acesso, com passe livre, ao final da viagem que acabará numa vida sem sofrimento, sem más lembranças e sem dores.

Que sejamos eternamente gratos pela caminhada segura rumo ao nosso destino eterno.

Zelene Reis

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