Ponto de vista

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” Mateus 5:9

Tenho um quadro no meu quarto que tem me acompanhado por muitos anos. É uma figura abstrata e eu amo as cores. De alguma maneira sinto uma sensação de conforto quando o vejo, talvez, por ser um companheiro de uma longa jornada. Estes dias minha neta, de oito anos, ficou olhando para o quadro com a testa franzida e me perguntou porque eu tinha um quadro com o desenho de uma máquina de lavar. Então, o irmão mais novo olhou e falou: “eu acho que é um caminhão”. Como explicar o inexplicável? A verdade é que agora eu enxergo uma máquina de lavar roupa e um caminhão no meu lindo quadro abstrato.

Quando uma de minhas filhas estava no Ensino Fundamental, em uma das provas de redação, os alunos deveriam escrever sobre o desenho de um quadro com uma bela paisagem. Mas, contrariando as expectativas da professora, ela não enxergou a gravura, mas o quadro que estava torto na parede. Então, ela fez a redação intitulada: “O Quadro Torto”.

Cada um de nós tem um ponto de vista, uma maneira de ver as coisas. Isso é bom e saudável, até o momento em que queremos que os outros vejam as mesmas coisas pela nossa perspectiva. Seria perfeito se concordássemos com tudo, mas não é assim. Por isso vemos tantas brigas por todos os lados. Não é o certo e o errado que nos separam uns dos outros, mas sim, nossos pontos de vista diferentes. Sempre achamos que as coisas estão certas pelo nosso jeito de olhar.

Eu e o Homero discutíamos algumas vezes por cores, andamentos e ritmos. Algumas vezes, ele achava que estava dirigindo devagar, mas eu achava rápido demais, e discutíamos. Brigas inúteis por pontos de vista que pareciam relevantes. Agora que ele se foi, eu daria tudo para brigar novamente. Ah, se eu soubesse… concordaria com todas as cores e todos os ritmos. E se pudesse, andaria mais alguns quarteirões, sem me importar com a velocidade.

Para onde nossas certezas nos levam? No meio do caminho elas se encontram com a certeza do outro e, muitas vezes, neste choque de opiniões, as amizades acabam, os amores esfriam e o amigo se torna inimigo. É difícil caminhar junto quando não cedemos e queremos que o outro veja a vida pela nossa ótica.

Estamos vivendo um tempo de tantas incertezas, mas ninguém quer ceder. Nem uma pandemia que nos trouxe tanto horror fez abrandar e apaziguar nossos egos tão inflados. Mesmo em família temos opiniões diferentes e quando tudo deveria ser resolvido em paz, erguemos a bandeira do “eu” e criamos uma grande confusão. Precisamos aprender, na prática, que a paz é melhor que a guerra, que a união faz a força e que, se eu ceder um pouquinho daqui, e você um pouquinho daí, a vida seguirá bem mais leve.

Que eu possa enxergar o quadro torto e fazer dele um poema. Que no quadro abstrato eu veja um caminhão ou uma máquina de lavar, e possa sorrir com a imaginação das crianças. Que na religião eu veja o amor descomplicado e imerecido de Deus por mim e por você. Que Deus olhe para este mundo tão cheio de choques de opiniões e nos ensine a olhar para o outro e nos ver refletido nele. Talvez, isso nos mude um pouco e, quem sabe, possamos começar a ouvir o outro lado. E assim, tentar, aos poucos, quando depender de nós, e a começar em nós, lutar para que haja paz na terra!

Zelene Reis

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