Um lugar à mesa

Então Mefibosete, que era aleijado dos pés, foi morar em Jerusalém, pois passou a comer sempre à mesa do rei.” 2 Samuel 9.13

Esta passagem bíblica sempre me encantou. Parece quase um conto de fadas. Uma história de justiça e de amor. O filho do amigo entrando como convidado no palácio, na sala de jantar do rei, andando, ou melhor, se arrastando com dificuldade, mas sendo recebido com honras e tomando assento à mesa do rei.

Dentre tantas coisas difíceis de enfrentar nos primeiros dias de luto, uma delas, foi sentar à mesa na hora das refeições. Ver o lugar vazio fazia doer a alma, pois o ritual do almoço foi quebrado. Não podíamos mais chamar seu nome, avisando que a mesa estava posta e nem fazer o rodízio de oração, aliás, até orar era doído. Pela graça e providência divina logo estaríamos nos mudando e criando novos hábitos que nos trouxeram um pouco de paz.

A mesa posta para a família, seja no café, almoço ou jantar, não representa só o alimento físico mas, também, o encontro diário, o momento de comunhão, de conversa, do planejamento e da gratidão. Desde criança, e olha que éramos uma grande família, tínhamos o hábito de almoçar juntos. Só sentávamos à mesa quando meu pai chegava e tomava assento na cabeceira. O momento da família reunida para as refeições foi um hábito que conservei e que sempre me trouxe conforto e alento. Eu olhava para cada um e tentava reter na memória esse tempo que logo passaria, pois em breve os filhos iriam crescer, estudar ou trabalhar em outros lugares, ou se casariam e iriam assentar em suas próprias mesas.

Creio que Davi tinha esse hábito, também. Sentar-se à mesa com sua grande família e, talvez, com convidados especiais de outras realezas, de patentes elevadas, que tinham o privilégio de estar na companhia do rei. Então, quando penso em Mefibosete, filho do amigo Jônatas, neto do rei Saul, esquecido e desprezado na casa de um de seus servos e, ainda, deficiente dos pés, chegando para tomar assento à mesa do rei, imagino os olhares curiosos e até ciumentos vendo a cena. Mas o rei o coloca em lugar de honra e promete, além de um lugar permanente à sua mesa, provisão para o resto dos seus dias.

Não somos diferentes de Mefibosete. Também nos encontrávamos em situação miserável quando o Senhor nos chamou para tomar assento à sua mesa, para a comunhão diária, para o partir do pão, para tomar do cálice que transborda e usufruir da bondade e misericórdia que nos seguirão todos os dias da nossa vida.

Quando chorei o vazio em minha mesa, imaginei você chegando para tomar assento permanente à mesa do Senhor e meu consolo foi que nada mais lhe faltará daqui para frente, pois a bondade do Senhor o coroou com glória e graça e o levou aos lugares celestiais, onde você não chegou se arrastando ou andando com dificuldades, mas sim, curado de todas as suas culpas, dores, doenças, agonias e sofrimentos.

E, assim, espero eu, também, um dia, me assentar ao seu lado na mesa que o Senhor tem preparada para todos os que o temem! Amém.

Zelene Reis

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