Viagens e distrações

“Se eu voar para o Oriente ou for viver nos lugares mais distantes do Ocidente, ainda ali a tua mão me guia, ainda ali tu me ajudas.” Salmos 139:9-10

Quando eu era criança, todas as vezes que participava de algum velório, ou ouvia adultos conversando sobre quem tinha morrido e quem tinha ficado, sempre alguém, totalmente sem empatia (hoje eu entendo), falava sobre os parentes próximos que estavam vivos: “eles vão se consolar, é só fazer uma viagem que vão se distrair”. E eu me consolava achando que bastava isso. Fazer uma longa viagem, ver lugares diferentes, bastaria para que a dor desaparecesse no asfalto, no mar ou no ar. Como era bom ser ingênua e crédula.

Mais tarde, já casada, com filhos, conheci um casal que viajava toda vez que uma crise surgia no relacionamento. Eles iam para outros países, ficavam vários dias fora da rotina e da realidade, voltavam carregados de compras e de boas memórias, até surgir a próxima crise. Ou, então, se não podiam viajar, começavam uma reforma na casa. Eram dias e dias de pedreiros entrando e saindo, paredes derrubadas, piso trocado, móveis e cortinas novas e por um tempo a vida seguia, até que chegou um ponto em que nem viagens e nem reformas resolviam mais os conflitos, e eles acabaram se separando. O problema estava neles mesmos, mas ninguém cedia.

Hoje, com a vida fora dos trilhos, penso como seria bom se uma viagem, realmente, consolasse corações machucados e relacionamentos quebrados. Quando Davi escreveu, no Salmo 55.6: “… Quem me dera ter asas de pomba para voar e encontrar um abrigo!”, penso justamente nessa fuga, nessa vontade de ir para longe dos problemas e das memórias que trazem dor e sofrimento. Se eu tivesse asas, talvez, viveria sempre voando, procurando um lugar calmo, sem conflitos, sem doenças e sem morte. Mas, no versículo 17, do mesmo Salmo, Davi declara: “De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz.”

Creio que não precisamos fugir, criar asas e voar para longe, pegar um trem, um carro ou um navio, e sair sem destino, pois a solução está perto, ao nosso lado, a uma oração de distância. Se eu fugir, vou ter que voltar. Se eu for para longe, a tristeza vai junto e voltará comigo, chegando até antes de mim, ao ponto de partida. Então, é tempo de esperar. Posso até viajar, mas sem a ilusão de que tudo ficará bem. Até já fiz isso e levei a tristeza junto, mas, ao mesmo tempo, experimentei a mais doce verdade de que nenhum lugar está fora do alcance de quem me protege, me alivia, me consola e me sustenta. Talvez, em breve e em outro momento, mudar de ares será atraente e uma boa distração, mas, enquanto esse tempo não chega, vou contando os passos e esperando que os dias levem a névoa da angústia para longe e tragam a paz e as boas lembranças que serão eternizadas.

Concluindo, penso que um dia viajarei sem bagagem, sem dinheiro e sem passagem de volta. E é essa viagem que fará todo o sentido, pois será nas asas do Onipotente. Que Deus nos ajude a viver olhando, não para os pássaros que são livres para voar, mas sim, para quem os criou e os sustenta, tendo a certeza do quanto mais nos sustentará, pois somos muito, muito mais preciosos aos Seus olhos!

Nenhum lugar é longe o bastante para ficarmos sem os cuidados do Senhor.

Zelene Reis

Post anterior
Rir até chorar
Próximo post
Nossos planos e os propósitos do Senhor!

34 Comentários. Deixe novo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Menu